![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6WLBHem2fNusxHPRIpIXBYJVpWDEBgPmRGE3QkU3RenNXX8fSk8Gdmozln2URRHA_w9dD-TytLRzG-S9GnMWwENxOoATUydvwyOhQvzb9W_4LNFzu93KDsQ-DUbf2Nn20T2Zr3WfJUyE/s320/leonardo-da-vinci-el-hombre.jpg) |
Homem Vitruviano - Desenhado por Leonardo da Vinci |
O teatro de Gil Vicente mostra o bifrontismo da
época, ou seja, a convivência de resíduos medievais, que apresentavam antecipações
renascentistas. A propagação da cultura clássica e do pensamento científico
confrontou-se com a intolerância religiosa, onde na metade do século XVI, impôs
uma censura bruta. É impossível de acreditar que D. Manuel e D. João II,
aceitaram que as obras suspeitas em matéria de fé fossem representadas e
aplaudidas pela corte.
Não se pode duvidar da posição religiosa do dramaturgo, pois
ele nunca colocou em dúvida a verdade da fé cristã, “divulgou” a devoção a
Nossa Senhora, cria na confissão dos pecados e na existência do purgatório. Com
isso ele acabou se afastando da reforma luterana e mostrou uma visão
conservadora, teocêntrica e medieval, tanto da sociedade como da vida,
realizando assim uma passagem para o Renascimento.
Ele foi considerado um humanista com grande capacidade de
observação e um grande espírito crítico, fazendo com que ele se afastasse do
teocentrismo dogmático e lançasse no inferno o frade folgazão do
Auto
da Barca do Inferno, atacando assim o negócio das indulgências, à
atribuição de fenômenos naturais à intervenção direta de Deus, o mundanismo da
corte pontifícia, a dissolução dos costumes do clero e o culto
supersticioso.
Como ele foi considerado humanista, ele acabou por praticar a tolerância
religiosa, representando com muita simpatia o dia a dia de uma família judaica,
na sua obra o Auto da Lusitânia, onde enviou uma
carta ai rei, defendendo os judeus.
Então, a arte de Gil Vicente aproxima-se da arte
manuelina, por causa da combinação de elementos que eram tirados da
realidade portuguesa do Quinhentismo e com um traço estruturalmente gótico, em
suas obras, como autos e farsas estão:
1. O medievalismo e o classicismo;
2. Aspectos épicos, líricos e burlescos;
3. As figuras do Velho Testamento e os heróis lendários de Roma e
da Grécia;
4. Divindades mitológicas e a Virgem Maria;
5. Anjos, demônios e homens e mulheres;
6. Reis fidalgos, altos prelados e parvos, pessoas que bebiam muito
e prostitutas;
7. Nobres orgulhosos e fidalgos decaídos;
8. Judeus, ciganos, mouros, pretos, comerciantes, artesãos;
9. Marinheiros e soldados a caminho do Ultramar;
10. Damas da corte, moçoilas casadoiras, camponesas ingênuas,
esposas infiéis, alcoviteiras e caftinas;
11. As festas palacianas e as cantigas e bailados
folclóricos;
12. Linguagem culta da elite, a linguagem “caipira” dos camponeses
e a linguagem desbocada das ruas;
13. A língua portuguesa, o castelhano, o dialeto saiaguês, o latim
eclesiástico e forense, frases feitas,
provérbios, imprecações e o linguajar típico de cada grupo social.